quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Depoimento espontâneo 24

A minha história nesse projeto até parece uma novela.

Tudo começou quando meu professor de informática entrou na sala de aula nos comunicando sobre à abertura das inscrições para atuar como monitor de informática no Projeto Integrando Gerações “Informática na Terceira Idade”. Na hora, não sei, deu uma vontade enorme de participar, pois eu tenho uma relação muito boa com a minha avó. Gosto de ouvir as conversas e historias que ela conta e por isso passei a gostar também de ficar mais próxima de pessoas mais velhas, principalmente as da terceira idade. E aí achei que essa era a oportunidade de ouro de poder compartilhar um pouco do meu “mundinho” com os idosos e, eles das suas experiências de vida para comigo.

Desejava imensamente poder passar tudo o que eu sei de informática para outra pessoa, pois tenho certeza que o pouco de conhecimento que possuo iria fazer uma grande diferença na vida deles, dos idosos. Com esse desejo em mente, fui adiante, me informei melhor sobre o projeto e me inscrevi. Nossa! Veio um monte de papel para eu ler, responder e assinar, junto com meus pais. Na hora até assustei, mas foi muito bom acontecer isso porque causou-me uma bela impressão de início: tratava-se de um projeto extremamente sério. Nessa etapa, o preenchimento das fichas, meus pais foram fundamentais. Eles me encorajaram muito e me fizeram “mergulhar de cabeça”.

Afirmei para mim mesma que ia dar tudo de mim, fazer o possível para ensinar e aprender.

O primeiro dia de aula foi de muita ansiedade, pois não imaginava como seria a receptividade de ambas as partes. Eles já estavam todos diante do computador quando nós – os monitores, entramos. Senti um frio na barriga quando vi pela primeira vez aqueles olhinhos a espera de um novo amigo, de um novo futuro, de uma esperança. Eles é quem deveriam escolher a um de nós para ser seu companheiro e orientador até o final do ano. Foi quando uma senhora apontou para mim e, nem acreditei, pois quantidade de monitores inscritos era bem superior a de alunos. Fui ao encontro dela, nos apresentamos e ficamos conversando, segundo a orientação do professor, durante a tarde inteira pois fora reservada especificamente para essa finalidade.

Fomos nos conhecendo e tiramos de vez a impressão de medo, de angustia, de insegurança e de incertezas. Tudo foi se transformando em calmaria, carinho, amizade e confiança. Ela até me confessou que eu já teria ganho um espaço em seu coração. Com isso, pude descobrir mais a fundo suas dificuldades, alegrias, tristezas, enfermidades, família e comportamento.

Após o encontro daquela tarde, resolvi dividir a minha satisfação e felicidade com alguns amigos e, muitos riram, disseram que era besteira e perda de tempo o que eu estava fazendo. Não dei nenhuma importância para os comentários porque aquele sorriso daquela senhora ficara na minha memória desde a primeira vez que a vi e eu tinha um compromisso de fazê-la mais feliz: eu tinha de ensiná-la até o final do ano, ficar ao seu lado, dar o melhor de mim até a sua formatura e quem sabe continuar por muitos e muitos anos.

Chegado o período de férias, guardei a fotografia tirada no ultimo dia de aula: eu, ela e seu esposo (que também participava do projeto), com todo amor. Prometemos uma a outra que no ano seguinte iríamos continuar juntas. E no ano seguinte, no primeiro dia de aula do projeto, o qual não afirmo que me arrependo, mas poderia ter sido diferente. Os alunos deveriam novamente escolher seus monitores e lá estava a minha aluna do ano anterior. Mas, uma outra senhora escolheu a mim antes de chegar a vez da minha antiga aluna, o qual não pude negar.

Eu precisava consertar de alguma forma aquela situação pois ela ficou sendo conhecida como a minha aluna verdadeira. Então, passei a ensinar, com a mesma dedicação e interesse, a minha nova aluna, pois seria como a minha mãe disse: você vai conhecer uma nova historia de vida, é outra pessoa que precisa de você. E foi assim, descobri novos jeitos de pensar, novas dificuldades e carências.

Durante algum tempo fiz questão de atender paralelamente a minha aluna anterior. Ainda bem que eu estava presente na sua vida em dos momentos mais difíceis da vida dela: o falecimento do seu querido esposo. Foi triste, ela ficou arrasada, pois ele vinha a todas as aulas juntinhos. Senti-me com uma sensação de incapacidade, não conseguia dizer nada, mas o meu coração estava partido por dentro. Abracei-a e, esse ato valeu mais do que todas as palavras que eu pudesse ter dito. Eu pude conhecer intimamente o casal, já fazia parte da família.

Passei a ter um carinho, um amor e atenção toda especial com essa aluna, mesmo eu tendo a minha aluna nova e ela, a sua monitora. Enfim, nós quatro tornamo-nos verdadeiras e inseparáveis amigas, além da relação monitor e aluno.

Senti que após participar do projeto eu estava crescendo e aprendendo, pois minha família passou a me elogiar frequentemente dizendo que eu estava mais paciente, mais interessada por causas humanas e respeitando mais as pessoas. Estava mais sociável, sabendo a hora de ouvir e de falar. Passei a prestar atenção e valorizar os pequenos detalhes da vida, penso mais antes de agir e de proferir palavras, estou mais sensibilizada com os problemas da terceira idade.

Até o meu rendimento escolar melhorou depois dos conselhos das minhas alunas. Os conhecimentos de informática os quais julgava serem suficientes, também pude adquirir novos e por esforço próprio pois alguns exercícios tive de aprender na hora para eu poder ensinar com mais segurança.

Estou muito feliz, tem sido um aprendizado constante na minha vida, em todos os sentidos. Continuo no projeto para ensinar e aprender. Considero o Projeto Integrando Gerações “Informática na Terceira Idade” como uma família, pois sei que com eles eu posso contar e vice-versa. A grande certeza que carregarei por toda a minha vida é que, em algum momento dela eu fui muito importante na vida de outras pessoas, principalmente sendo útil e contribuindo para o crescimento e conquista de um mundo melhor.

Ana Laura Mariano Trivellato, 15 anos, Monitora de informática, Campo Grande – MS, 2007.

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